Amo as
crianças. Amo seu interesse
em aprender, sua inocência, seu encantamento diante de coisas simples como se
fossem verdadeiros tesouros. Fico maravilhada quando converso com elas,
procurando entender como pensam e como vêem o mundo. Me emociono quando as
vejo fazer pela primeira vez algo que nunca tinham feito antes: conseguir
pular em um pé só, traçar o contorno da mão, construir uma torre, ler uma
palavra, escrever uma história… Seu sorriso ilumina seus rostos, chegando aos
seus olhos, e contagia todos os que têm sensibilidade de ver que aquele
momento é um pequeno milagre. Uma nova sinapse, um novo
conhecimento.
Por mais
desanimada ou cansada que eu estivesse, nunca foi difícil estar entre alunos.
Eles sempre me revigoraram, me fizeram sorrir e me sentir melhor. Bilhetes,
abraços, olhares… essas recompensas fazem tudo valer a
pena.
As
crianças mais maravilhosas, mais felizes, mais equilibradas e interessadas,
geralmente têm uma família incrível por trás: pais que se importam com sua
formação, que se dedicam a ver o mesmo encanto que eu vejo nessas descobertas,
que sabem que não são perfeitos, e nem seus filhos, mas que a beleza está aí,
na provisoriedade do conhecimento e na possibilidade de
mudança.
Mas às
vezes vejo crianças que são algozes dos colegas, dos professores, dos
assistentes. Que aos quatro anos dominam seus pais completamente, impondo suas
vontades: “Quero isso já!”; “Não vou tomar banho hoje!”; “Não como isso!”.
Vejo-as crescerem manipuladoras, criando situações com seus próprios colegas
para “se dar bem”. Vejo os pais apoiando comportamentos egoístas e
egocêntricos como se eles e seus filhos fossem mais especiais que os outros.
Colocando seus filhos na posição de vítimas, incompreendidos pelo mundo, e
exigindo satisfações de tudo e todos.
Fico
muito triste quando os pais se colocam como adversários dos professores, e não
como seus aliados, na formação das crianças, porque quem sofre com isso são
seus próprios filhos, pegos em disputas de poder entre os lados.Como fica a
formação ética dessas crianças que não sabem ouvir um não, não sabem ver
outros pontos de vista, não sabem se frustrar, não sabem pensar em ninguém
exceto em si mesmos?
Vejo que
a função de algumas famílias se restringe a pagar as contas dos filhos: a escola, a babá, os brinquedos, a
viagem à Disney… e quanto mais ausentes (e talvez, inconscientemente culpados)
se sentem, mais compensam materialmente algo que deveria ser dado
emocionalmente. O vínculo que estabelecem com seus filhos é baseado
em
materialidades. Triste posição!
Esses
pais se vêem como “clientes” da escola, pagantes por um “serviço” que esperam
receber conforme suas expectativas. E como dizem, “o cliente sempre tem
razão”. Por isso, eles chegam à escola exigindo e demandando, tentando
humilhar todos os que negarem suas exigências. São como os filhos que estão
criando: imaturos, emocionalmente frágeis, com baixa resistência à frustração,
incapazes de ver o contexto maior, escravos de seus desejos e vontades. Nunca
encontrarão um lugar que atenda todas as suas expectativas, pois ao lidar com
uma instituição que prima pela coletividade, como a escola, não vêem que os
desejos individuais de cada membro são diversos e que é impossível atender a
todos. E seguirão zangados, por não encontrarem a satisfação às suas
expectativas irreais.
Amei
vários de meus professores, tanto que neles me inspirei para seguir minha
carreira. Amei o encantamento pelo saber que eles, e minha mãe também, me
inculcaram. Mas não me lembro de ter tido razão sempre, nem de ter todos os
meus desejos atendidos, quando era criança na escola. Ainda
bem!
Tenho dó
das crianças dessas famílias, pois estão sendo privadas por seus pais de se
desenvolverem plenamente, de ver que o mundo não foi feito em função de seus
desejos. É importante ouvir não às vezes. É importante saber se
frustrar.
“Não cabe aos pais adaptar o mundo todo aos seus filhos. Sua tarefa principal é fortalecer seus filhos para viver no mundo, e transformá-lo em um lugar melhor para todos”
Ter filhos dá trabalho, é difícil. Não
temos todas as respostas. Não somos onipotentes. Mas ter filhos é maravilhoso
quando podemos aprender com eles a sermos pessoas melhores, e ajudá-los a
serem tudo o que podem ser.
Isso é plenamente possível. As crianças
mais maravilhosas, equilibradas e felizes tiveram o privilégio de nascer
nessas famílias, que se importam com sua formação e não em ter sempre razão. E
por todo o belo trabalho que estão fazendo, esses pais receberão a recompensa
de ver seus filhos se orgulharem deles, amá-los e estar ao seu lado por toda
sua jornada. Verão seus filhos crescerem, se fortalecerem e frutificarem em
boas pessoas, seres humanos melhores para si mesmos e para os
outros.
Quem dera todos os pais assumissem a
responsabilidade pela formação integral de seus
filhos!
Selma Moura
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